No último dia 19 de outubro, o palco do SESI AE Carvalho foi tomado pela força e pela emoção de Chico Rei. Saí do teatro com o coração apertado e, ao mesmo tempo, cheio — porque há peças que não apenas se assistem, mas se sentem.
O cenário era simples, quase simbólico, como se o palco quisesse abrir espaço para o que realmente importava: a palavra, o corpo e a entrega. Eram um homem e quatro mulheres que deram vida à história com intensidade e uma veracidade. Era possível ver a vontade de dizer vibrando na pele de cada um deles — especialmente nas atrizes, que carregavam em seus corpos uma força dupla, a da luta pela liberdade e a da condição de mulher dentro dela.
Os figurinos, belos e expressivos, completavam essa verdade — tecidos que pareciam respirar junto com os personagens, revelando simbologia, ancestralidade e resistência.
“É com as mulheres que se fazem os homens para seu exército.”
Essa frase atravessou o teatro como um raio e me acertou bem no peito, nela, cabia tudo — a força feminina, a dor, a coragem, a urgência de existir mesmo em meio à opressão. Era como se, naquele instante, a peça parasse para lembrar que, dentro da luta contra a escravidão, havia outras lutas sendo travada: a das mulheres que precisavam ser fortes em dobro para sobreviver, sustentar e resistir.
Essa verdade se via na carne, nas expressões, na respiração das atrizes. Não era apenas atuação — era corpo em estado de luta. Era memória viva.
E impossível não destacar a força da interpretação de Marcos Paulo, ator que deu vida a Chico Rei. Ali, já não se enxergava o ator — era o próprio Chico Rei em cena tomado por seus delírios, vontades e emoção que vazavam por seus poros. Sua presença tomava o espaço com verdade e grandeza.
Chico Rei foi mais que uma peça. Foi um canto de resistência. Um espelho do passado que ainda reflete o presente. E, sobretudo, um lembrete poderoso de que a liberdade — em qualquer tempo — sempre teve voz, rosto e corpo.
Viva Chico Rei, Viva a Cia Ascalon, viva a liberdade!
Teatro do SESI AE Carvalho – São Paulo (SP)
Espetáculo: Chico Rei
Companhia: Ascalon
(Festival de Teatro Prêmio Eliete Fernandes)

Por Gaya, NANNU | 29 de outubro 2025
(Nannu Gaya é autora e observadora do instante. Escreve crônicas sobre arte, cotidiano e tudo o que se dissolve entre um gole e outro.)
