No palco do SESI AE Carvalho, pelo Festival Eliete Fernandes, a Companhia Filosofia de Coxia apresentou “Sebastião” — e o teatro, por instantes, pareceu respirar um tempo fora do tempo. A peça mergulha no sebastianismo, esse mito que mistura fé, esperança e resistência, e o traduz em poesia cênica.
Três “Sebastiões” nos foram apresentados: o santo, o rei e a lenda. Cada um deles carregava em si o reflexo de uma busca coletiva — o desejo humano de salvação, de retorno, de recomeço. E o mais bonito é que tudo isso não veio de discursos prontos, mas de imagens vivas, construídas no corpo e na voz de mais de trinta jovens atores que tomaram o palco com uma força arrebatadora.
Era impossível não sentir a energia pulsante desse grupo. Jovens que poderiam estar presos a telas, distraídos pelo cotidiano digital, escolheram estar ali — fazendo arte, questionando o mundo, manifestando ideias. E essa escolha, por si só, já é um ato político, um gesto de esperança.
As cenas se costuravam como um tecido simbólico, em que o coletivo se tornava personagem. Havia momentos em que o palco inteiro parecia respirar junto, formando imagens que diziam mais do que palavras. Metáforas ganhavam corpo, o tempo se dilatava, e o público era convidado a enxergar o mito não como passado, mas como espelho.
E então veio o final — um convite ao manifesto. Morre o santo, morre o rei, morre a lenda… e sobra a gente. Sobra o agora, o que podemos fazer. A peça termina com uma canção inédita, emocionante, dessas que ecoam depois que as luzes se apagam. Uma canção que não fala de um Sebastião distante, mas de cada um de nós.
“Sebastião” é mais do que um espetáculo. É um ato de fé na juventude, um grito poético dizendo que o mundo ainda tem jeito — enquanto houver quem suba ao palco para sonhar, questionar e transformar.
Teatro do SESI AE Carvalho – São Paulo (SP)
Espetáculo: Sebastião
Companhia: Filosofia de Coxia
(Festival de Teatro Prêmio Eliete Fernandes)

Por Gaya, NANNU | 28 de outubro 2025
(Nannu Gaya é autora e observadora do instante. Escreve crônicas sobre arte, cotidiano e tudo o que se dissolve entre um gole e outro.)
