Duas datas, um compromisso contínuo: 21/9 e 11/10 lembram que inclusão é todo dia

Geral

Do “lutar” ao “fazer”: como transformar consciência em prática para todas as pessoas com deficiência — com foco e abrangência.

Setembro e outubro trazem dois marcos importantes no calendário brasileiro: o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21 de setembro) e o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física (11 de outubro). A primeira data convoca a sociedade à mobilização ampla — é sobre direitos, participação social e derrubar barreiras atitudinais, físicas, comunicacionais e tecnológicas. A segunda nos ajuda a focar numa parte essencial desse universo: as pessoas com deficiência física, que esbarram diariamente em degraus (literalmente) e em processos que ainda não foram pensados para todos.

Quando aproximamos as duas datas, ganhamos o melhor dos dois mundos: mantemos a pauta ampla — pessoa com deficiência, em toda sua diversidade — e, ao mesmo tempo, aprofundamos soluções concretas para um conjunto de barreiras muito visíveis (e, diga-se, resolvíveis). Afinal, rampa não é luxo, é caminho; legenda não é “mimo”, é acesso; e inclusão não é “boa vontade”, é direito.

Duas datas, um fio condutor: do “luta” (21/9) ao “fazer” em todos os dias do ano — com foco renovado em 11/10 para remover barreiras físicas e, de quebra, melhorar a cidade, a escola e o trabalho para todo mundo.

Por que falar da pessoa com deficiência?

  • Inclusão é plural. Pessoa com deficiência não é uma categoria única: há deficiências físicas, sensoriais (visual e auditiva), intelectual, psicossocial, múltiplas e transtorno do espectro autista. Políticas sólidas consideram essa diversidade.

  • Deficiência física é uma entrada potente. Calçada lisa, rampa, banheiro acessível, transporte adaptado e mobiliário ajustável beneficiam não só cadeirantes, mas idosos, gestantes, pessoas com mobilidade reduzida temporária, mães e pais com carrinho… e toda a cidade.

  • Modelo social da deficiência. Não é o corpo que “não cabe”; é o ambiente que ainda não acolhe. Remover barreiras é um dever legal (Lei Brasileira de Inclusão — LBI, Lei 13.146/2015) e uma escolha inteligente de desenho universal.

Do discurso à prática: onde avançar com impacto rápido

Abaixo, um roteiro objetivo — suave no tom, incisivo na execução.

1. Ruas, prédios e serviços públicos

  • Calçadas e travessias: piso regular, rebaixamento de guia conforme norma, sinalização tátil, tempo de semáforo suficiente.

  • Transporte: frota com plataformas funcionais, motoristas e cobradores treinados, informação acessível em áudio e visual.

  • Atendimento: senha com chamada visual e sonora, balcões rebaixados, banheiros acessíveis de verdade (porta que abre, barras corretamente posicionadas, espaço de giro).

2. Educação que inclui desde o início

  • Formação docente contínua em educação inclusiva e desenho universal da aprendizagem.

  • Materiais acessíveis (Libras, legendas, audiodescrição, contraste adequado, leitura fácil).

  • AEE (Atendimento Educacional Especializado) bem organizado, com participação da família e do estudante. Inclusão não é “separar”; é garantir recursos e apoio no cotidiano da sala de aula.

3. Trabalho digno, carreira e pertencimento

  • Cumprimento qualificado da Lei de Cotas (Lei 8.213/1991): abrir vaga é o começo; o essencial é adaptar processo seletivo, posto de trabalho, metas e carreira.

  • Tecnologia assistiva e ajustes razoáveis: desde software leitor de tela e teclados alternativos até flexibilização de jornada e home office quando fizer sentido.

  • Onboarding e gestão: líderes preparados, metas inclusivas, avaliação justa do desempenho e canais de escuta que funcionem.

4. Comunicação e cultura organizacional

  • Linguagem inclusiva e respeito à autodefinição: “pessoa com deficiência” (PCD), sem diminutivos ou termos capacitistas.

  • Conteúdos acessíveis: contraste, fonte legível, textos alternativos em imagens, Libras e legendas em vídeos. A acessibilidade começa no briefing.

5. Saúde, reabilitação e vida independente

  • Acesso a reabilitação multiprofissional, órteses, próteses e meios de locomoção — com manutenção e reposição.

  • Moradia, mobilidade e tempo livre: a cidade precisa funcionar para que a autonomia exista para além das paredes de casa.

Mitos rápidos (e respostas curtas)

  • “Inclusão custa caro.” Na maioria dos casos, custa menos planejar certo do que “dar um jeitinho” eterno. Ajuste razoável é proporcional e viável.

  • “Uma rampa resolve.” Rampa sem inclinação correta é pista de skate. Precisamos de percurso completo: do ponto de ônibus à porta do consultório, sem “buracos” no caminho.

  • “É só contratar, o resto se resolve.” Inclusão não é milagre pós-contratação; é processo com metas, orçamento e indicadores.

O papel das organizações que constroem pontes

No Brasil, iniciativas como as do Instituto Ester Assumpção mostram que dá para combinar advocacy, educação e execução no chão da escola e da empresa:

  • Mobilização e advocacy: participação em conselhos de direitos, palestras e ações de sensibilização que mudam cultura.

  • Pesquisa e desenvolvimento: estudos sobre o perfil de pessoas com deficiência, empresas e creches, para orientar políticas baseadas em evidências.

  • Assessoria especializada para escolas e empresas: diagnóstico, plano de ação, formação de equipes e acompanhamento da implementação.

  • Programa Rede Ester (desde 2012): mobiliza candidatos com deficiência, qualifica, encaminha para vagas e acompanha as empresas em todo o processo de inclusão.

  • Parcerias e protagonismo: trabalho em rede e foco na voz e no protagonismo da própria pessoa com deficiência.

Em outras palavras: dá para sair do “post comemorativo” e entrar no ciclo completo — entender, planejar, executar, medir e melhorar continuamente.

Conclusão: do 21/9 ao 11/10 — e de volta ao cotidiano

O 21 de setembro nos lembra por que lutamos: participação plena e igualdade de oportunidades para todas as pessoas com deficiência.
O 11 de outubro nos lembra como fazemos: removendo barreiras físicas e criando condições práticas para que a vida aconteça com autonomia e respeito.

Juntas, as duas datas apontam para um compromisso de 365 dias.

Se você é gestor público, educador, líder empresarial ou cidadão, escolha uma ação desta lista e comece nesta semana. Inclusão é um verbo no presente — e, quando bem conjugada, melhora a vida de todos.

Instituto Ester Assumpção

Fundado em 1987, o Instituto Ester Assumpção é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos criada por Ester Assumpção, educadora nacionalmente conhecida pelo caráter pioneiro e inovador no campo da educação. A instituição atua no campo da inclusão da pessoa com deficiência e tem como foco contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva, onde a diversidade seja aceita e respeitada na sua integralidade.

As principais frentes de atuação são a qualificação e inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho e a consultoria para que as organizações se adequem e cumpram o papel social de promover a inclusão.

🔗 Site: www.ester.org.br
📲 Instagram: @institutoesterassumpcao