Por Luari Laevs
O início de uma vocação: quando a escrita se tornou abrigo
A trajetória de Graziela Barduco na arte e na literatura começou cedo, quase como um instinto natural. Desde pequena, ela encontrou nas palavras um refúgio e uma forma de compreender o mundo. A escrita foi seu caminho de autocuidado e autoconhecimento e a poesia, sua linguagem mais autêntica.
Mas o encontro com o universo do cordel aconteceu mais tarde, durante seu mestrado em Artes da Cena, quando percebeu que esse gênero seria a ponte perfeita entre pesquisa, cultura popular e expressão poética. “O cordel me deu a métrica, a rima e a oração para falar sobre o que pulsa em mim e no mundo”, afirma.
A artista múltipla: literatura, palco e transformação
Graduada em Cinema e pós-graduada em Artes Cênicas, Graziela é uma artista de muitas camadas. Escritora por necessidade da alma, cordelista por vocação e artista da cena por natureza, ela teceu uma trajetória que une arte, educação e pesquisa.
Sua experiência no teatro e na arte-educação é a base de projetos transformadores, como a Cia Cordiais, fundada em 2015. Dela nasceu o espetáculo infantil “A Menina e o Pé”, produto final de sua pesquisa de mestrado em Artes da Cena, posteriormente adaptado para livro infantil.
“A atriz me dá a performance e a oralidade que o cordel exige, e a arte-educadora me coloca no lugar da transformação”, resume Graziela, que enxerga na educação uma poderosa ferramenta para formar novas gerações mais sensíveis, críticas e conscientes.
A mulher cordelista: resistência e reexistência
Em um gênero literário historicamente dominado por homens, Graziela Barduco ocupa seu espaço com coragem, resistência e leveza. “Ser mulher cordelista é quebrar o silêncio e trazer para a rima e a métrica as nossas vivências e lutas”, declara.
Em obras como “Minhas Curvas de Estimação” e “O Machista e a Cordelista”, ela aborda temas como autoestima, machismo e padrões de beleza sob a ótica feminina e reafirma o papel do cordel como instrumento de reflexão e empoderamento.
O gênero, segundo ela, vive um momento de efervescência e renovação. Hoje, o cordel já está presente em escolas, universidades, palcos e redes sociais, dialogando com temas contemporâneos e ganhando novas vozes, mas ainda há muito o que se batalhar pela valorização e disseminação da Literatura de Cordel.
Teodoras do Cordel: a força coletiva das mulheres
Graziela é uma das fundadoras do coletivo Teodoras do Cordel Artevistas – SP, criado em julho de 2020, em plena pandemia. O grupo nasceu da união de mulheres com o propósito de promover e difundir a Literatura de Cordel feita por mãos femininas.
“Foi a materialização da nossa força em um momento em que o mundo se recolhia. O coletivo garantiu que a nossa história fosse contada também através da voz feminina”, explica.
Arte e educação: o cordel como ferramenta de transformação
Como arte-educadora, Graziela acredita que unir arte e ensino é semear poesia e consciência. Em suas oficinas, ela utiliza o cordel e o teatro como instrumentos pedagógicos. “A arte-educação não é apenas sobre ensinar técnicas, mas sobre despertar sensibilidade e criticidade”, defende.
Na Cia Cordiais, o espetáculo “A Menina e o Pé” se tornou um marco por unir cultura popular brasileira e teatro infantil. Já em sala de aula, ela se emociona com cada estudante que descobre sua própria voz por meio de versos em cordel. “Ver um jovem rimando e metrificando pela primeira vez é indescritível. É a certeza de que a arte transforma.”
Reconhecimento e conquistas literárias
O trabalho de Graziela vem sendo amplamente reconhecido. No início de sua jornada como escritora, recebeu o Certificado de Destaque Literário da ALPAS 21, em Poesia, e em 2025, ela recebeu o Prêmio Destaques Literários Focus Brasil, na categoria Cordel. Essas conquistas reforçam o impacto de sua produção, que une pesquisa, arte e cultura popular. “É a prova de que a poesia que nasce da pesquisa e da paixão está encontrando eco”, afirma.
Graziela também ocupa cadeiras na ALPAS 21 (Academia Literária do Vale do São Patrício) e na AILB (Academia Internacional de Literatura Brasileira), espaços que representam o reconhecimento da poesia popular e feminina dentro do cenário literário nacional.
Uma obra diversa e pulsante
Com diversos títulos publicados, entre folhetos de cordel e livros, e tendo participado de mais de 50 antologias, Graziela constrói uma obra plural que transita entre o universo infantil e a crítica social. “Cada livro é um pedaço da minha jornada”, diz.
Seu processo criativo é intuitivo e nasce da observação do cotidiano, das dores e das urgências de expressão. “Um novo cordel surge quando uma ideia me fisga e insiste em ser dita. A escrita é um ato de cura e de militância.”
Pesquisa, doutorado e novos horizontes
Atualmente, Graziela é doutoranda em Educação, pesquisando o cordel como ferramenta pedagógica e instrumento de transformação social. Sua pesquisa busca unir teoria e prática, arte e ensino.
Além do campo acadêmico, ela segue com apresentações performáticas, oficinas e novos projetos, incluindo iniciativas no campo da música, que prometem ampliar ainda mais o alcance de sua poesia.
A inspiração que move a artista
Para Graziela Barduco, o que mais a inspira é a capacidade da arte de transformar vidas. “A arte e a educação têm o poder de mudar o mundo. Um verso pode mudar um dia, e uma pesquisa pode mudar uma prática”, afirma.
Otimizando o olhar para o futuro, ela acredita que o cordel continuará a florescer: “O futuro da Literatura de Cordel é promissor, porque ela é resiliente e essencial para a nossa identidade cultural.”
Mensagem final
“Que cada pessoa encontre sua forma de se expressar, de se curar e de transformar o mundo. Leiam, declamem, vivam o cordel e acreditem na força, potência e alcance de suas vozes.”
A trajetória de Graziela Barduco é um tributo à força feminina, à sabedoria popular e à capacidade da arte de resistir, ensinar e inspirar.
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Por Luari Laevs
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