Nova NR-1: Saúde Mental e Gestão de Riscos Psicossociais como Pilar Estratégico nas Empresas

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Nos últimos anos, o ambiente corporativo passou a lidar com desafios inéditos ligados à saúde mental e à gestão de riscos psicossociais. Um dos marcos mais relevantes nesse processo é a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes gerais de prevenção e traz uma perspectiva ampliada sobre o papel das empresas na promoção do bem-estar dos trabalhadores.

Como psicanalista clínica dedicada à saúde mental no trabalho e mentora de líderes, vejo nesta norma um avanço significativo. Ela não apenas exige conformidade legal, mas convida organizações e gestores a assumirem um papel ativo na prevenção do adoecimento emocional e no fortalecimento da cultura de cuidado. É nesse ponto que a minha atuação se diferencia: ao lado das empresas, realizo diagnósticos precisos, desenho estratégias sob medida e implemento programas de 12 meses voltados à prevenção e correção dos riscos identificados.

O impacto da nova NR-1 no cotidiano das empresas

A atualização da NR-1 reforça a obrigatoriedade de se avaliar e gerir riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais, que antes ficavam em segundo plano. O texto normativo prevê a elaboração do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), no qual a saúde mental passa a ser considerada uma variável essencial da produtividade e da sustentabilidade organizacional.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos mentais custam à economia global mais de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade. Quando trazemos esse dado para a realidade brasileira, torna-se evidente que as empresas que negligenciam a saúde emocional de seus colaboradores assumem não apenas riscos legais, mas também financeiros e reputacionais.

Neste cenário, minha prática clínica e consultiva oferece às empresas um olhar ampliado: traduzir os dispositivos legais em estratégias de gestão, capazes de fortalecer a cultura organizacional e garantir conformidade com a legislação.

Diagnóstico: o primeiro passo para a mudança real

Minha atuação começa sempre com o diagnóstico organizacional, que vai muito além de aplicar questionários genéricos. Utilizo metodologias psicanalíticas, entrevistas clínicas, análises de clima e ferramentas estruturadas para mapear fatores como:

  • Níveis de estresse ocupacional;
  • Riscos de assédio moral ou sexual;
  • Falhas na comunicação entre líderes e equipes;
  • Ausência de políticas claras de prevenção;
  • Demandas emocionais ocultas, que não aparecem em pesquisas tradicionais.

Esse processo garante que o PGR não seja um documento burocrático, mas um retrato fiel da saúde emocional da empresa. Costumo dizer que o diagnóstico é como um espelho: ele revela vulnerabilidades, mas também mostra potenciais que podem ser fortalecidos.

Estratégias personalizadas: de políticas a treinamentos

A segunda etapa do meu trabalho é a criação de estratégias sob medida. Cada empresa possui uma cultura própria, com desafios específicos, e por isso não acredito em soluções prontas ou modelos engessados.

Entre as ações que costumo implementar estão:

  • Desenvolvimento de políticas internas de prevenção a riscos psicossociais;
  • Criação de protocolos de acolhimento para situações de crise emocional;
  • Programas de capacitação para líderes, com foco em inteligência emocional e comunicação não violenta;
  • Workshops e rodas de conversa sobre saúde mental, ética e convivência no trabalho;
  • Revisão de processos de RH para alinhar práticas de recrutamento, avaliação e desligamento à cultura de cuidado.

O objetivo não é apenas cumprir a norma, mas integrar a saúde mental à estratégia de negócios, tornando o bem-estar um diferencial competitivo.

Programa de 12 meses: prevenção e correção contínua

Minha proposta central para as empresas é o programa estruturado de 12 meses, que combina prevenção, monitoramento e correção. Esse modelo funciona como um ciclo de cuidado, dividido em três fases:

  1. Implantação (primeiros 3 meses): após o diagnóstico, desenhamos o plano de ação, priorizando riscos críticos e estruturando políticas básicas.
  2. Consolidação (do 4º ao 8º mês): implementamos treinamentos de líderes, rodas de conversa e acompanhamento de indicadores, criando uma cultura de participação.
  3. Sustentação (do 9º ao 12º mês): avaliamos resultados, revisamos protocolos e ajustamos as práticas para garantir perenidade.

Esse programa é customizado para cada organização, mas sempre inclui métricas de acompanhamento, como índices de absenteísmo, turnover e engajamento, que demonstram os ganhos tangíveis para a empresa.

Um dos casos que mais me marcou foi o de uma organização que apresentava alto índice de rotatividade entre jovens talentos. Ao longo de 12 meses, o programa de prevenção de riscos psicossociais reduziu o turnover em 35% e elevou o índice de satisfação interna em mais de 20 pontos percentuais. Isso mostra que cuidar das pessoas é, também, cuidar dos resultados.

O papel do líder na aplicação da NR-1

Um dos pontos-chave da NR-1 é a responsabilidade do empregador em estruturar e manter programas de prevenção. Mas, na prática, quem dá vida a essas diretrizes são os líderes.

Por isso, no meu trabalho, invisto fortemente em treinamento de lideranças, ajudando-os a desenvolver competências como:

  • Escuta ativa;
  • Reconhecimento de sinais de sofrimento psíquico;
  • Capacidade de mediação de conflitos;
  • Estímulo à cooperação e ao engajamento.

A liderança, quando bem preparada, transforma a norma em prática cotidiana, promovendo segurança psicológica e prevenindo situações de adoecimento emocional.

Um novo paradigma para empresas e profissionais

A nova NR-1 marca uma virada de chave no modo como as empresas devem lidar com a saúde mental e os riscos psicossociais. Não se trata mais de um tema acessório ou de campanhas pontuais, mas de uma obrigação legal e estratégica.

Minha atuação, unindo a clínica psicanalítica à consultoria organizacional, tem se mostrado essencial para apoiar empresas nessa transição. O diagnóstico preciso, as estratégias personalizadas e o programa de 12 meses criam um caminho consistente para transformar a saúde emocional em ativo estratégico.

Deixo para vocês uma reflexão: se a saúde física dos colaboradores sempre foi tratada como prioridade, por que a saúde mental ainda seria negligenciada? As empresas que compreenderem essa realidade estarão mais preparadas para enfrentar os desafios do futuro, com equipes saudáveis, líderes conscientes e uma cultura de cuidado capaz de gerar impacto positivo e sustentável.

Fabiana Santiago

Site: www.fabianasantiago.com.br / Instagram: fabianasantiagobr