Arte, música e acolhimento: como as oficinas terapêuticas transformam saúde mental em Maricá

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Em meio a desafios crescentes na saúde pública, Maricá se destaca com iniciativas que fecundam esperança: as oficinas terapêuticas realizadas em unidades geridas pela OSS Hospital Mahatma Gandhi têm elevado o padrão de cuidado, levando arte, música e criatividade para dentro dos ambientes de atendimento — e deixando marcas profundas na saúde mental da população. 

 

Atividades que acolhem e fortalecem 

Inspiradas por práticas humanísticas como as da dra. Nise da Silveira, as unidades — especialmente o CAPS III e setores como Hospital-Dia ou UPA — promovem atividades artísticas e culturais que vão muito além do entretenimento: são intervenções terapêuticas carregadas de afetividade. 

No CAPS III, as ações semanais incluem oficinas artísticas e musicais, atividades lúdicas no jardim com hortaliças e plantas comestíveis, além de estímulo corporal e cultivo mental em um espaço acolhedor e humanizado.
  

No Hospital-Dia e na UPA de Inoã, oficinas como “Aquarela” e “Cuca Fresca” têm sido sucesso entre crianças e adultos — proporcionando momentos de pintura, caça-palavras e arte livre durante o período de espera. A iniciativa promove conforto emocional, dispersão positiva e senso de pertencimento.
  

Vozes que traduzem o impacto 

O arteterapeuta José Queiroz, responsável pela oficina “Aquarelando” no CAPS 3, destaca: 

“O projeto Aquarelando dilui a zona de culpa e coloca o usuário no caminho do cuidado. Promovemos a contratualidade e autonomia da pessoa, o que faz muito bem para ela e para o serviço de saúde. Esse projeto não para e seguiremos construindo esse cuidado no dia a dia.”
  

Priscila Pereira Ribeiro, mãe de duas crianças atendidas na UPA, compartilha: 

“Enquanto aguardam, elas ficam se distraindo e pintando. Isso é bom para toda criança. A minha filha… sente falta dos amiguinhos… mesmo sendo criança, ela fica preocupada.”
  

O diretor técnico do Hospital Dante Modesto Leal, Glauco Pontes, ressalta: 

“O atendimento humanizado é importante porque passamos a enxergar o paciente como um ser humano e não apenas como uma doença ou diagnóstico. O paciente passa a se sentir bem na unidade…”
  

Resultados visíveis: mais que arte, cuidado que transforma 

Estas práticas têm efeitos reais na saúde mental da população: 

  • Acolhimento emocional e redução da ansiedade, com espaços seguros para expressão criativa; 
  • Fortalecimento da autonomia e autoestima dos usuários, favorecendo adesão ao tratamento; 
  • Redução do estigma hospitalar, pois traz cor, vida e cultura a ambientes clínicos; 
  • Melhora na percepção do serviço público, com afirmação de que saúde e humanização caminham juntas. 

 

Oficinas que integram redes e mobilizam comunidades 

A atuação extrapola os espaços internos. Em datas simbólicas como o Mês da Luta Antimanicomial, Maricá promoveu intervenções culturais que reuniram profissionais, usuários e população em geral na Praça Orlando de Barros Pimentel. As atividades incluíram pintura, auriculoterapia, dança, música e a já tradicional oficina “Aquarelando”, aliados a momentos de reflexão e expressão artística sobre saúde mental.
  

Essas iniciativas reforçam o compromisso da cidade com práticas integradas de cuidado em liberdade — ecoando os princípios da reforma psiquiátrica e da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
  

Estrutura facilitadora: quem faz e como faz 

Os resultados expressivos só são possíveis porque as oficinas fazem parte da estratégia de cuidado das unidades: 

  • Equipe multiprofissional — com psicólogos, terapeutas ocupacionais e incluso musicoterapeutas — ideal para conduzir grupos expressivos e reflexivos.
     
  • Espaços qualificados, como o jardim terapêutico, áreas para pintura e unidades acolhedoras para as atividades em grupo.
      
  • Alinhamento com políticas públicas, como a saúde mental fortalecida nas USFs e CAPS, descentralizando o acesso. 

 

Aspecto  Antes  Com oficinas terapêuticas 
Ambiente de espera  Ansioso, impessoal      Colorido, acolhedor e lúdico 
Participação do usuário  Passivo, ansioso      Criativo, protagonizando seu     cuidado 
Acolhimento emocional  Limitado       Elevado, com sensibilidade e empatia 
Percepção do serviço  Clínica e técnica       Humana e aberta 
Estigma do atendimento  Alta, com distanciamento       Reduzido, com integração social 

 

Por que isso importa 

  • Humanização como política de saúde: a arte como instrumento de cuidado psicológico e social — não um acessório, mas parte essencial da assistência. 
  • Tratamento além da prescrição: oficinas comunicam com a pessoa inteira — emoções, história, corpo e memória. 
  • Rede fortalecida: ao emparelhar serviços clínicos com culturalidade, Maricá mostra que saúde mental se constrói em rede e em comunidade.