Nos últimos anos, tenho acompanhado de perto um movimento preocupante no mundo corporativo: líderes pressionados por metas agressivas, equipes adoecendo emocionalmente e empresas perdendo talentos estratégicos em ritmo acelerado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que o estresse ocupacional é um dos principais riscos psicossociais do século XXI, com impactos bilionários na produtividade.
Foi nesse cenário que decidi consolidar minha atuação como psicanalista clínica voltada para a saúde mental no trabalho, mentora de carreiras e formadora de líderes. Minha missão é clara: desenvolver gestores que não apenas entreguem resultados, mas que também construam ambientes saudáveis, capazes de sustentar performance sem abrir mão do bem-estar humano.
Liderança é construção, não cargo
Um dos pilares do meu trabalho é desmistificar a ideia de que liderança nasce junto com o crachá de gestor. Para mim, liderança é uma construção contínua de competências. Em diversos ciclos de formação que conduzi, acompanhei tanto profissionais em sua primeira experiência como líderes quanto gestores já consolidados que precisavam atualizar seus estilos para novos contextos.
O que sustenta um líder não é apenas o domínio técnico, mas a capacidade de se relacionar, ouvir e inspirar. Sempre reforço: promover um bom técnico não significa, automaticamente, promover um bom líder. É preciso preparar essas pessoas para o exercício de uma função que envolve complexidade emocional, estratégica e relacional.
Nos meus programas, utilizo a combinação de psicanálise aplicada, metodologias de gestão e ferramentas comportamentais como DISC, Big Five e Avaliação de Desempenho 9Box. Esses instrumentos permitem que cada líder enxergue seus pontos fortes e vulnerabilidades, construindo um estilo autêntico, consciente e eficaz.
Saúde mental como eixo central
Como psicanalista, levo para dentro das organizações um tema que, por muito tempo, foi tratado como tabu: saúde mental no trabalho. Tenho visto como líderes exaustos dificilmente conseguem cuidar de suas equipes, e como equipes adoecidas reduzem drasticamente a capacidade de entregar resultados.
Estudos recentes da Deloitte (2024) apontam que 62% dos executivos relatam exaustão frequente. Isso se reflete em turnover, afastamentos e queda de engajamento. Diante disso, insisto com os líderes que oriento: construir culturas de segurança psicológica não é luxo, é sobrevivência.
Nos meus treinamentos, trabalhamos temas como resiliência emocional, prevenção do burnout e autogestão. Mostro aos líderes como identificar sinais de adoecimento, como equilibrar cobrança com cuidado e, sobretudo, como desenvolver a consciência de que ninguém sustenta resultados se estiver emocionalmente fragilizado.
Mentoria: personalização que gera transformação
Se os treinamentos fornecem a base teórica e prática, é nas mentorias individuais e coletivas que consigo aprofundar a transformação. Cada gestor que acompanha comigo recebe um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), alinhado tanto aos seus diagnósticos comportamentais quanto às metas estratégicas da organização.
Esse trabalho é um dos grandes diferenciais da minha atuação: aliar a precisão das ferramentas de RH à profundidade da psicanálise. Isso significa que, enquanto oriento sobre gestão de equipes, também convido cada líder a refletir sobre suas relações inconscientes com poder, autoridade e reconhecimento.
É comum que comportamentos nocivos se repitam de forma automática se não houver essa tomada de consciência. A mentoria, portanto, não é apenas um guia técnico, é um espaço de amadurecimento emocional e de expansão de consciência.
Inteligência emocional: competência-chave do futuro
Acredito que a liderança moderna não pode mais ser sustentada apenas pela racionalidade ou pelo comando vertical. O diferencial dos líderes que realmente engajam pessoas está na inteligência emocional a capacidade de compreender e gerenciar as próprias emoções e as dos outros.
Nas formações que conduzo, trabalhamos competências como empatia, comunicação assertiva, ética e gestão de conflitos, sempre conectando a teoria com situações reais vividas pelas equipes. Pesquisas da Harvard Business Review indicam que equipes lideradas por gestores com alto nível de inteligência emocional apresentam 20% mais engajamento e 15% menos rotatividade.
Esse é o ponto que costumo destacar: não basta entregar números; é preciso sustentar relações humanas que suportem esses números no longo prazo.
O futuro da liderança: adaptabilidade com propósito
Olhando para os próximos anos, sei que os desafios da liderança só tendem a se intensificar. Transformações digitais, diversidade geracional, novas formas de trabalho e crises globais exigirão dos líderes algo além de técnica: exigirão adaptabilidade contínua e clareza de propósito.
Defendo que líderes preparados para o futuro precisam unir dois movimentos:
Propósito, para conectar metas corporativas a um impacto real na vida das pessoas.
Flexibilidade, para se reinventar sem perder a essência em cenários incertos.
Essa é a direção que busco imprimir nos líderes que formo: pessoas capazes de alinhar estratégia, ética e humanidade, sem abrir mão do que os torna singulares.
Acredito que a formação de líderes não pode ser encarada como um curso pontual ou um “remendo” em tempos de crise. É um investimento estratégico de longo prazo, que molda não apenas resultados financeiros, mas também a saúde emocional e a longevidade das organizações.
Em minha atuação como psicanalista clínica e mentora, tenho visto que é possível, e necessário, integrar saúde mental, inteligência emocional e performance. O resultado são líderes mais conscientes, equipes mais engajadas e empresas mais sustentáveis.
E deixo aqui uma provocação: você está formando líderes apenas para entregar resultados ou para transformar pessoas e organizações de maneira duradoura?